A acadêmica Zita Aparecida Duarte Tives Tramontina, do curso de Jornalismo da Uniarp, conduziu uma entrevista com Nercina do Valle, de 79 anos, no âmbito do projeto de extensão – PAEC: “Jornalismo UNIARP: Vozes e Histórias”.
A iniciativa inclui a gravação de podcasts para preservar e divulgar histórias regionais, que é executada pelos acadêmicos do curso de jornalismo.
Durante o episódio, dona Nercina compartilhou suas lembranças da Guerra do Contestado, um conflito armado que ocorreu entre os estados do Paraná e Santa Catarina, no início do século XX, e que deixou marcas profundas em sua família.
Dona Nercina revelou que seu avô, Manoel Gomes de Oliveira Peppes, conhecido como Neco Peppes, foi uma das vítimas da guerra. Ele foi assassinado por jagunços na Fazenda Rio Doce (em Lebon Régis), e seu corpo permaneceu por seis dias sob a guarda de um cachorro, até que familiares pudessem enterrá-lo. Ela contou como sua avó, Rita Francisca do Vale, ficou viúva com seis filhos, sem casa, após a destruição da propriedade pela guerra. Dona Nercina narrou os desafios enfrentados por sua avó, que precisou lutar para sobreviver, criando galinhas e cozinhando com o pouco que restava.
A entrevistada destacou como a guerra, além de resultar na perda de terras e propriedades, levou muitas famílias humildes a serem desapropriadas para a construção da estrada de ferro. Essas famílias, sem ter para onde ir, muitas vezes se tornaram jagunços.
Segundo Dona Nercina, poucos conhecem a verdadeira história do Contestado, e a preservação da memória desse evento é um dos legados que ela busca manter viva em Lebon Régis, onde seu avô foi enterrado perto de sua casa. Ela também mantém um pequeno museu, onde guarda itens históricos da Guerra do Contestado, como restos de balas de fuzil.
Dona Nercina enfatizou a importância das lideranças religiosas durante o conflito, como o monge João Maria, que desempenhou um papel de guia espiritual e apoiou as pessoas na luta pela sobrevivência. Ela também mencionou o jagunço Adeodato, que, tragicamente, foi o responsável por atirar no seu avô, embora fosse afilhado de Manoel.
A história de Dona Nercina é marcada por sofrimento, mas também pela determinação em preservar a memória de seus antepassados e da Guerra do Contestado. Ela acredita que é fundamental contar essas histórias para as novas gerações, ressaltando as dificuldades enfrentadas pelas famílias naquela época. A entrevista foi encerrada com um apelo para que essa memória não seja esquecida, com o desejo de que seus descendentes continuem a contar e preservar essa parte tão importante da história regional.
O projeto de extensão (Paec) “Jornalismo UNIARP: Vozes e Histórias” está sendo orientado no segundo semestre de 2024, pelas professoras Dra. Juciele Marta Baldissarelli e Me. Tatiane Atanásio dos Santos Bernardy.
Ouça o podcast acessando: https://youtu.be/T71qUIDlapQ