Na sala do Fórum de Caçador, no Meio-Oeste, estavam uma garota de 21 anos, que viu o pai pela última vez aos seis, advogadas e mais duas estagiárias da Vara da Família. Todas aguardavam a primeira de seis audiências de conciliação marcadas para aquele dia. Em pauta, um processo de cumprimento de sentença da obrigação de prestar alimentos.
A expectativa pela presença do pai, que nunca arcou com a responsabilidade patrimonial e afetiva, não era das maiores. A mãe ingressou na Justiça com o pedido de pensão para a filha em 2011. Ciente de todo o histórico de ausência, ela não queria ir à sessão, mas aceitou o conselho de um tio para que estivesse presente.
O parente estava certo. Desta vez, foi fora do comum. Ao ouvir alguém dizer que o homem chegava, os olhos da jovem se encheram de lágrimas e a ansiedade era visível. Começava naquele momento a ser escrita mais uma página da história de suas vidas. Não só deles, mas também das estudantes de direito que, na primeira experiência como conciliadoras, desempenharam com competência a função de fomentar o diálogo entre os envolvidos.
Cabisbaixo, o homem se sentou e, mesmo sem cruzar o olhar, aos poucos respondeu aos questionamentos da filha. Ela era mais insistente nas perguntas, porém, à medida que as coisas aconteciam, o pai também mostrou interesse em saber mais sobre ela. Ciente de que nunca a ajudou, disse que o desejo, agora, é outro. A jovem sabe que tem um irmão e manifestou a vontade de conhecê-lo. Os dois trocaram números de telefone para se comunicar.
“Geralmente, as audiências em que se busca a execução de alimentos são pouco amistosas. O que nos surpreendeu foi a tentativa de reaproximação entre eles. Este fato é inusitado. Acredito que, timidamente, haverá esse reencontro”, diz uma das advogadas do Núcleo de Práticas Jurídicas da Uniarp, professora Thiara Zen.
Nessa mesma instituição estudam Isabelle Crisanto da Silva e Luísa Maria Sgarbi, estagiárias da Vara da Família da comarca de Caçador. Isabelle havia participado de sessões conciliatórias apenas como ouvinte. Já Luísa tem um pouco mais de vivência, pois auxilia a magistrada Lívia Francio Rocha Cobalchini nesse tipo de audiência. Durante a 18ª Semana Nacional da Conciliação, ocorrida entre os dias 6 e 10 de novembro, ambas tiveram a chance de mediar conflitos. As duas dividiram as tarefas. Enquanto uma cuidava da parte do acordo, a outra estimulava a conversa.
“Fizemos com que se sentissem à vontade. Inclusive, disponibilizamos uma sala para que falassem a sós se quisessem. Esse caso foi mais uma prova do quanto o diálogo é importante. Percebemos que ela estava muito feliz e emocionada”, conta Isabelle.
Fonte: NCI/TJSC – Serrra e Meio-Oeste –Taina Borges